Intercâmbio de Vida

E se alguém trocasse a tua vida de um dia para o outro?

Thursday, July 06, 2006

O sol estica-se tentando chegar ao zénite que marca a metade da sua trajectória. Na rua os carros ainda dormem encostados às arvores que povoam a avenida. Bianca acordouj cedo e face à infantilidade da televisão senta-se agora na marquise com um livro entalado entre as pernas. Ao contrário do que era costume era um livro de culinária. Enquanto salivava olhando as imagens olhava os ingredientes tentando encontrar alguma coisa que pudesse cozinhar com o que tinha em casa. Não gostava nada de folhear este livros, principalmente pelo que estava em frente ao nome da iguaria entre parentises. Nunca havia nada para 1 pessoa . Lá encontrou um arroz mais fora do comum e começou a seguir o guião. Enquanto a panela fervilhava escondida pelo testo, ela pôs a mesa com brio mesmo sendo só um prato que a povoava. Com as noticias hilariantes de domingo comeu sossegada e com vontade. No fim deixou tudo na mesa espalhando-se no sofá a ver um filme cor-de-rosa-algodão-doce. Exageradamente doce, pensou ela. Antes de adormecer. Só acordou com o som metálico da campainha. Os olhos correram logo para o relógio da aparelhagem mas este ainda piscava a meia noite porque ela ainda não se tinha dado ao trabalho de o acertar. Olhou então o sol já alaranjado e lembrou-se que Sara tinha ficado de passar lá para lhe mostrar as fotos do casamento. Correu a arrumar tudo na cozinha depois de lhe abrir a porta la em baixo. Quando a campainha voltou a soar já Bianca usava as suas mãos como pente em frente ao espelho da entrada.
-Olá- disse Sara quase gritando a sua felicidade como se a expressão na sua face não chegasse. Vinha sozinha contudo.
Ao menos isso desabafou o coração de Bianca.
Sentaram-se no sofá, Bianca exibindo o pináculo do seu sorriso amarelo, Sara agarrando o album grosso contra a cintura. Trocaram palavras vãs, sorriram formalidades e até que o livro se abriu mostrando toda a brancura de um dia que nada dizia a Bianca. Era nestes momentos que se sentia mais que tudo revoltada com um mundo que parecia atormentá-la só porque não tinha fotografias assim, porque não tinha um anel na sua mão, ou sequer uma mão. Já não se lembrava de lhe custar tanto a manter o sorriso, e ao fechar da porta caiu no chão sentada e a dor que escondeu atrás do sorriso durante toda aquela conversa saiu-lhe em torrentes de lágrimas. Quando finalmente acalmou levantou-se e no congelador tirou um balde de gelado para tentar arrefecer o coração que vibrava ainda vermelho de dor.

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